No texto anterior, acredito ter ficado claro como manter uma alimentação saudável longe dos produtos de origem animal. Em pleno século XXI, na era tecnológica, onde a informação está à disposição de todos – principalmente para aqueles que às buscam – é comum pessoas se espantarem com alguém que não coma carne. Ainda sou surpreendido com as clássicas perguntas: “você come o quê?” Ou, “você só come folha é?” Como se uma dieta à base de carne fosse a única forma de se alimentar. Se não há carne não é comida.
Luciana Rangel é adepta do veganismo. Uma versão extrema do que se conhece do vegetarianismo. Além disso, é sócia e cozinheira da Cooperativa Rango Vegan, uma das ótimas fornecedoras de comidas naturais em Salvador. Com o companheiro e o filho mantêm-se livres das carnes animais e de um possível peso na consciência. Aqui, Luciana sintetiza todas estas questões respondendo a algumas perguntas sobre seu cotidiano como ativista pró liberação animal.
NEW BRUTALITY – Quando foi que você decidiu parar de comer carne?
LUCIANA RANGEL – Em 1995 fui morar com o Robson, que é meu companheiro até hoje, e lá em casa a gente fez uma proposta de não entrar carne vermelha, pois naquela época já estavam tendo discussões no movimento punk sobre a carne. Em 96 entramos pro Hare Krishna e aí fui parando gradativamente de comer os outros animais, frango e peixe. E quando estava no Hare conheci a “filosofia de vida” Straight Edge e me identifiquei, pois já tinha visto muitos amigos morrer diretamente por causa de drogas, o próximo passo foi o veganismo.
NB – Como sua família encarou a decisão que tomou?
LUCIANA – No começo o pessoal não levava muita fé, pensava que era coisa de jovens e eu já não era tão jovem (risos). Depois, com o passar dos anos, passaram a entender que é algo sério mesmo, e que é a minha opção de vida.
NB – Quais as principais dificuldades que você enfrentou a partir do momento que deixou de comer carne?
LUCIANA – Naquela época não tinha muita opção de comida como tem hoje nas ruas. Mas, a maior de todas foi em relação ao Kirtana, meu filho, pois não tinha nenhuma informação nem exemplos reais de crianças veganas. Como estava grávida, em 1997, queríamos que quando ele nascesse sua alimentação fosse vegan, como é até hoje. A cobrança da minha família foi muito grande em relação à saúde dele, pois diziam que ele ia ser doente.
NB – Na verdade, você não só deixou de comer carne como também não consome produtos derivados de animais. Há algum tipo de produto que não houve condições de deixar de utilizar?
LUCIANA – Não, nenhum produto. Sou vegan. E já conheço as marcas que não testam em animais. Existem sites que mostram a lista de produtos. Geralmente escolho os produtos mais baratos que nunca testam. Mas, enquanto vivermos em uma sociedade baseada em classes e no capital como princípio das coisas não existirá produto “totalmente vegano”.
NB – Qual a diferença entre vegetarianismo e veganismo?
LUCIANA – Existem algumas definições. Ovo-lacto-vegetariano usa ovos, leite e derivados, o lacto-vegetariano usa leite e derivados e o vegan não come nada de origem animal, nem veste e nem usa produtos que foram testados em animais. Pra mim a principal diferença é que o vegetarianismo é um caminho, mas que as pessoas se acomodam por não querer deixar certo tipo de alimento, como o queijo e o leite. Não param pra analisar por suas conveniências que as vacas sofrem tanto ou mais que os outros animais. E o veganismo é o caminho dentro do capitalismo que possui menos crueldades e exploração. Claro que não é perfeito, pois também existe a exploração humana. Aqueles que trabalham com a soja, por exemplo, também são explorados. Existem muitos vegans que são consumistas ao extremo. Mas isso à medida dos anos tem melhorado, pois existe uma crescente crítica a respeito.
NB – Você tem um filho que desde cedo recebeu uma educação alimentar eética com relação aos animais diferente das que são comumente ensinadas em nossa sociedade. Isso não dificulta o relacionamento dele fora de casa?
LUCIANA – Não. Ainda bem que ele é uma criança que sabe muito bem se comunicar e é fácil de fazer amizades. Ele não só tem uma alimentação diferente como aprendeu a conviver com as diferenças, então se “vira de boa” nas ruas (risos).
NB – Você faz parte da Cooperativa Rango Vegan. Como surgiu a idéia de montar uma cooperativa?
LUCIANA – Sim. No começo, há dois anos atrás, eu e mais duas amigas estávamos desempregadas e não queríamos mais trabalhar pra ninguém. Como todas éramos veganas e tínhamos dificuldades de encontrar alimentos veganos na cidade unimos o útil ao agradável. Foi aí que surgiu a idéia da cooperativa. Na verdade não é e nunca foi uma cooperativa de verdade. Pois pra ser uma cooperativa tem de ter no mínimo 20 pessoas trabalhando e nós éramos três pessoas. Agora só somos eu e a Carol, pois a Kátia, que muito contribuiu pra cooperativa, saiu pra alçar outros horizontes. Colocamos esse nome pelos princípios que apreciamos e praticamos que é ter tudo dividido igualmente, o dinheiro e o trabalho, tudo decidido por consenso, com as decisões tomadas de maneira horizontal e ser autônomas. O nome agora é só Rango Vegan. E nós participamos de uma Rede de Economia Solidária com vários outros empreendimentos. É uma economia que respeita as pessoas e o meio ambiente e o dinheiro não é o único objetivo. Uma economia mais justa em que as pessoas são mais solidárias umas com as outras. Uma forma de burlar esse sistema capitalista.
NB – Como e onde funciona essa cooperativa?
LUCIANA – Não temos um espaço físico, por enquanto. Mas, estamos batalhando pra ver se conseguimos um espaço que seja em conta, pois não temos muitos recursos. Trabalhamos na casa da Carol, minha sócia e amiga, que fica nos Barris.
NB – Quantas pessoas colaboram com esse projeto?
LUCIANA – Tem uma galera que sempre deu apoio e acredita no nosso “trampo”. Nossos amigos e companheiros ajudam com cartazes e divulgação.
NB – Como as pessoas podem adquirir os produtos da cooperativa?
LUCIANA – Por telefone. Meu número é 3011-3215 e 8821-4260 e o da Carol é 8837-4963 e 3328-0195. Fornecemos marmitas e lanches variados, tudo integral, e também aceitamos encomendas para festas.
NB – Você tem alguma mensagem para passar aos nossos leitores?
LUCIANA – Os animais são seres sencientes. Eles existem por si só e não para servir aos seres humanos. E acima de tudo eles não são objetos e sim seres vivos que merecem respeito. Queria agradecer a Led pelo espaço, agradecer em especial ao meu companheiro Robson por sempre estar na batalha comigo, ao meu filho Kirtana, a Carol e Kátia e aos amig@s vegan@s de Salvador que sempre deram apoio a Rango Vegan. Go vegan!
3 comentários:
Essas meninas são muito massa!!! Não vejo a hora de visitar Salvador para comer esses quitutes!!!
Massa a entrevista tb!
bjok da mah (sp-sp)
meu contato: mahpaiva@gmail.com
Bacana Lu!!
Arrasa sempre!!
Valeu pela entrevista e pela divulgação do blog, que eu não conhecia.
Beijos!
x-)
A Luciana é maravilha, e tem um trabalho muito massa não na luta de libertação animal mas também na luta contra a violência de genêro como o wendo. È uma mulher admirável e amável!
Lila
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