Por Yago
Itaparica.
Manhãs de
primavera trazem no vento sussurros de poesia. Ouvidos atentos ao silvo que
brota das folhas secas caídas, das árvores anciães, de pássaros (mensageiros da
natureza), da terra palpitante, surpreendem-se à voz dos bosques. E na sua
fisiologia de mato, desatinam a buscar por corpos poéticos, lugares poéticos,
vozes poéticas, seres poéticos.
Qualquer dia,
numa dessas manhãs, pude presenciar. Algazarra das existências que se
transmutam em poetar. Fora manhã cotidiana dessas, precisamente, uma quinta-feira,
13 de dezembro, Amargosa, cidade jardim. Algumas pessoas, despregadas de suas
vidas costumeiras, ouviram ser chamadas, nem foram vozes, foram instintos.
Sarau Janela
encantada, a arte da escuta. Eis o nome do pequeno ocorrido que reunia, como um
vórtice que traga o que lhe margeia, toda sorte de ouvintes. O mais célebre
deles, talvez, tenha sido o passarinho azul que, atento às movimentações,
pousou no corrimão do coreto onde realiza-se o gracejoso sarau e observava os
preparativos.
Pensar em pessoas
pra falar de poesia em uma quinta, quem poderia? Há coisas pertencentes de uma
esfera dinâmica, pouco se preocupa com praticidades do dia, deixa-se escoar,
esquece afazeres, problemas, dores. Assim fora aquela manhã. Manhã da mais
saborosa primavera.
Recita, canta,
dança, ouve, fala, ri-se. Ai de nós que não nos damos poesia.
Se quisera eu de
verdade falar, jamais poderia. Os aconteceres se dão e passam, não há como
narrá-los, fidedignos. E se eu assim fizesse, jamais narraria a poesia daquele
dia. Veja, como fica… atravancado.
“Na quinta-feira
do sarau, quatro pessoas à mesa, falavam de poesia e recitam poesia. Há quem
cante e há quem dance. Dois grupos e um artista solo balançando o esqueleto.
Intervenções, vozes poéticas, se deixam soar, entonar.”
Vê, parece
breve, mas foram mil anos em algumas horas. A palavra não pode narrar. Ai, que
pudesse! Seria recriar. A palavra tem seu próprio movimento, outro movimento,
diferente do movimento, vida.
Ah, mas uma
coisa posso falar, foi dia lindo, dia maroto, dia borboleta e passarinho. Foi,
foi dia poesia.