quarta-feira, 1 de maio de 2019

MINHA MÚSICA, MINHA VIDA.


Por Led Beslard

Foi uma grata surpresa para mim, após participar do concurso Solta o Riff, promovido pelo site da revista Rolling Stone Brasil, ter sido selecionado e declarado vencedor da prova. A iniciativa buscava premiar aquele que mandasse um riff marcante e a avaliação tinha como critérios criatividade, originalidade e técnica. Tudo aconteceu muito rápido e despretensiosamente, pois eu não tinha a intenção e o interesse de voltar às redes sociais, uma das condições para participar. Mas, por muita insistência da minha esposa, resolvi gravar e mandar o vídeo com um trecho de uma música composta por mim há mais de 15 anos, chamada “Ninguém”, no último dia do concurso. No final de tudo, isso me trouxe lembranças interessantes de como cheguei até aquele momento.

A música sempre foi minha paixão. Desde criança, ouvia muita música das rádios e dos vinis, inicialmente, por influência de meu pai. Mas não demorou muito para que eu começasse a selecionar um repertório mais particular. Nunca tive preconceitos e botava pra tocar tudo o que me satisfazia musicalmente. Ouvia de Reginaldo Rossi aos sons da orquestra de Paul Mauriat, passando pelos ícones da música erudita. Nascido em Salvador, os primórdios da axé music e do samba reggae baiano, bastante originais e de qualidade notória na época, também foram minhas primeiras admirações. Hoje a qualidade das composições baianas mudou e o meu gosto também.

Até então, eu era apenas um ouvinte, mas que já conseguia distinguir o que queria ouvir ou não, diante da infinidade de materiais que dispunha para apreciar. Após nos mudarmos de um bairro a outro, na pré-adolescência, conheci o som do Guns n’ Roses. Foi amor à primeira ouvida, e também passei a conhecer algumas pessoas que gostavam de rock. Meus pais não aprovavam esse estilo musical e não quiseram comprar o disco da banda, que eu tanto pedia. Lembro-me de passar, praticamente, todos os dias na loja de discos pra conferir se ainda tinha o vinil, até o dia que consegui juntar dinheiro suficiente para comprá-lo. Pronto, tinha em mãos o clássico “Appetite for Destruction”, que não parava de rodar quando eu estava em casa.

Tinha um vizinho, mais velho e mais inteirado na música rebelde, rápida e pesada, que acompanhava músicas do Iron Maiden com um violão. Pirei, e foi então que comecei a me interessar em aprender a tocar um instrumento musical. Ficamos amigos e por intermédio dele ouvia e pegava muitos discos emprestados da sua coleção. E assim, entre diversas coisas antigas e atuais, conheci o som de Hendrix, Sabbath, Zeppelin, o já citado Maiden, Metallica, Megadeth, Testament, Sepultura (e muitas outras bandas nacionais), Skid Row, Alice in Chains, L7, Smashing Pumpkins e Pearl Jam. Mas, a primeira música que aprendi a tocar no violão, que também pagava emprestado com ele, foi “Patience”, do disco Lies, do Guns.

Mesmo adorando aquele novo mundo musical e tendo começado a aprender a tocar algumas músicas das bandas que começava a gostar com intensidade, não me interessei por completo em tentar reproduzir o que ouvia. Busquei colar acordes de maneira desconexa e criar meu próprio som. Tudo era tão distinto entre si, que eu queria ser igual fazendo diferente. Então, nasceu o desejo de montar uma banda.

Foi aí que conheci Luidi Pussente, que já tinha experiência com a bateria e tocava em uma banda cover do Nirvana. Com ele, passei a conhecer muita coisa do chamado som alternativo e progressivo. E quando a banda dele acabou pensamos em tocar juntos. Logo fui apresentado a Frank Gomes, já conhecido de Luidi, que curtia “Doom” e “Black Metal”, mas que em paralelo adorava Red Hot Chili Peppers. Com isso, formamos a banda Êxtase, que contava com Luidi na bateria, Frank no baixo, Neto Dória, um amigo em comum, nos vocais e eu na guitarra. Gravamos uma fita demo, com composições próprias, e passamos a tocar em bares e festivais locais.

Com o tempo, fomos nos aprimorando como músicos, nos dedicando apenas a ensaios frequentes, pois não tivemos aulas formais de música, e o nosso som, ao mesmo tempo que ficava mais rápido e pesado, ganhava mais personalidade. Então, trocamos o nome da banda para Nebória e Badú Bessa assumiu o vocal. Foi o momento musical mais excitante da minha jornada como instrumentista e compositor. Após algumas outras mudanças na formação, a banda se desfez. Tive o prazer de experimentar outros projetos como a Harzoth e de participar da Banda Aluga-se, que fazia cover de Raul Seixas.

Nunca parei efetivamente de tocar, mesmo não estando em uma banda. Fico sempre me distraindo em casa com um violão ou plugando uma guitarra ou baixo no ampli. Em Amargosa, interior da Bahia, conheci e uni forças com a cantora e compositora Laura Juliana, parceria que culminou na produção do clipe da música "Sem Mastigar". Nesse período, montei um espaço cultural chamado Café e Cultura onde, entre diversas manifestações envolvendo arte e educação, aconteciam muitas Jam Sessions. Isso me fez estabelecer contato com excelentes músicos locais, entre eles o guitarrista Diego Morais, os bateristas Joel Kabide e Adno Resende, os percussionistas Tony Sales e Peu Meurray, e muitos outros craques. Ultimamente, tento passear pelas teclas e também tirar uns sons na bateria. Passei a colaborar com outros músicos, produzindo e gravando, ainda de forma amadora, os materiais que eles apresentam. Iniciei o projeto Mandinga Delivery, trazendo canções que mesclam entre o elétrico e o acústico. A música não pode parar.

O fato é que fiquei muito feliz pelo reconhecimento de uma peça artística que diz muito sobre mim. Isso porque tudo que me inspirou, tudo que produzi e compartilhei, é fruto de tudo que ouvi e absorvi durante anos, passando por distintas fases do cenário musical e, imprescindivelmente, pelas relações e experiências que tive com os diversos músicos com quem toquei. Bom, talvez, ter ganhado um prêmio de âmbito nacional seja o mais simples e modesto resumo de tudo que vivi e ainda pretendo viver com a arte que mais me fascina, a música.