segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A TRAVESSIA DAS ERAS



Por Anderson L. Souza

Acaba de ser lançado pelo escritor André Galvão o livro de poemas “A Travessia das Eras”. Com distribuição por todo país pela editora Penalux, o trabalho chega ao grande público após alguns anos de produção, aprimoramento e amadurecimento do autor na vida literária.

Em uma entrevista produzida para nosso blog, vamos conhecer um pouco mais sobre esse escritor promissor que, deixando de lado por alguns momentos a burocracia de seu trabalho como servidor técnico, nos traz a beleza das palavras em meio a temas tão distintos (e muitas vezes espinhosos), através do tempo em seu fazer poético.


sábado, 4 de agosto de 2018

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO DO CAMPO


Por Yago Itaparica.

O dia não era lá dos melhores. A seleção brasileira acabara de ser eliminada da Copa do Mundo de Futebol masculino. A ocasião pareceu triste, a noite, por sua vez, não hesitava de volta e meia derramar sobre nós um tanto de sua melancolia. Fria, cortava de súbito uma leve brisa que agitava cada corpo a se aquecer. A praça Lourival Monte guardava da chuva e do céu aberto, além de belas flores que escondiam sua beleza sob o véu noturno, à acolhida do coreto de vistas gregas, audacioso, o café mais deleitoso que Amargosa poderia ter em tão adversa situação, um café do pensamento, um Café Filosófico.

Em meio a uma atmosfera de quase silêncio, trabalháramos para montar a nossa estrutura. A feira da agricultura familiar, dirigida pela Cooama, uma cooperativa de trabalhadores do campo, lá estava, como toda sexta-feira, esteja o dia brilhando de estrelas, ou, como nesta ocasião, fechado de tênue esmorecimento. O ar gélido nos aconchegava, ponha em nossas bocas tons mais suaves; um mingau de milho que ali era vendido dava um sabor à nossa existência. Por ali vendia-se quase de tudo; tudo que fosse necessário, pelo menos. Como garrafas ornamentadas, essencial para pôr uma rosa, ou lanches vegetarianos, sem a dor da morte de um animal; que tal um beiju ou alimentos orgânicos gerados no âmago da terra trabalhada por mãos simples? Plantas? Tínhamos, necessaríssimas para dar vigor a nossos dias. Assim como a filosofia.

Esta, por sinal, ficara a cargo de um excêntrico professor, Marcelo Santana. Ele trabalha em uma Universidade na cidade de Feira de Santana, cidade da qual ele sempre fala com um certo ânimo contagiante. Eliene Silva, sempre sorridente e meiga nos toques, seria a debatedora dessa ocasião. Ajeitamos o local, que por sua vez ficou charmoso, claro, devido a um certo toque feminino, que fora dado por Eliene.

O público chegara aos poucos, como pede o tempo interiorano, sem pressa, sem alarde. Se punham em cena os personagens de nossa história, como uma peça teatral em que cada um soubesse onde se encontrar disposto. Fora bonito de se ver. A garoa tão pouco desanimou ou intimidara a freguesia, que embora não fosse excessiva, mas, deveras de qualidade inestimável.

O evento, a propósito, tinha por tema: Filosofia e Educação do Campo, quer mais sugestivo?! Tudo pronto, o espetáculo de Marcelo, ou melhor, seu show, como gosta de acentuar, iria começar. Mas não sem antes ter uma cultural com Tony Sales, artista, percussionista local, que ataca de cantor em esparsas situações. Compositor, trouxe-nos músicas suas, que falam dessa cidadezinha cravada no coração do Vale do Jiquiriçá, que tem por apelido Cidade Jardim, também chamada por aquele outro que faria seu show nessa noite, de Holanda brasileira.

Abro a noite e logo apresento o som peculiar de Tony, com palavras desconcertantes, afinal não esperava ser chamado a falar na abertura pela coordenadora do evento, Geovana Monteiro, me tomou de surpresa. Idealizadora do projeto, foi ela quem possibilitou estarmos experiênciando essa aventura com o saber. A noite seria agradável, de tom um tanto bucólico, as falas pontuais, o ritmo era sutil, o ambiente projetava acolhimento. Um café aqui, um papo ali, risadas acolá, livros sendo vendidos sobre uma mesa, era o sebo Charlie Brown, e seu dono corpulento e de fala mansa, Salvador. A tudo filmava Anderson, esposo da professora Geovana e apoiador nosso, ele foi o cara que ajudou a iluminar a festa e agora registrava-a. Eu, por sinal, acudia no que fosse preciso, sempre um tanto atordoado, afinal, nunca antes havia participado efetivamente da preparação de um evento.

Tudo ocorrera bem, até melhor do que o previsto, ou, pelo menos do que, eu, havia previsto. A palestra acontecera de forma formidável, houve participações do público, presenças ilustres de outros docentes do Centro de Formação de Professores, ao qual pertencemos, nós da organização, os habitantes da vizinhança, alunos, especialmente aqueles do curso de Educação do Campo.

Pude perceber que aquele fora um evento e um lugar especial, não é a toda hora que se fala em Filosofia e em Educação, sobretudo Educação do Campo, em praça pública como fizera Sócrates, levar conhecimento e reflexão para a rua é um ato de resistência. Nesse oceano de gente que é a nossa sociedade, tocando em assuntos tão pouco comentados, a não ser em espaços delimitados e encarcerados. Na rua, a palavra ganha vida, só ali o vento pode leva-la a novos horizontes, a novas mentes, a novos tons. Fazendo jus ao conhecimento, que deve ser vivo, que deve transformar, criar. Esse que não deve se fechar em paredes de concreto bruto, esse que não deve se enrijecer. Deveria ele ser um pássaro solto, que voa, voa, para além das nossas fronteiras, sempre buscando a luz de um pôr do sol, tarefa infindável, para que em um breve momento de descanso, ou de lucidez, pouse em um galho de árvore, aninhando-se, e saiba apreciar a arguta beleza amarga da vida.