sábado, 30 de abril de 2011

ENTRE IDAS E VINDAS
Por Led Beslard



Esta semana fui a Salvador para, além de rever meus entes queridos e desfrutar um pouco de entretenimento (o que infelizmente não encontro no vilarejo em que vivo atualmente), exigir uma providencia quanto ao meu diploma. Formei-me há quase quatro anos atrás e sempre que vou à faculdade com a esperança de receber meu documento, nunca está pronto. Desta vez, para meu contentamento e sorte dos funcionários de lá (que com certeza iam ouvir poucas e boas), o canudinho estava a minha espera.

Feliz da vida, apesar da consciência de que hoje em dia para ser jornalista ninguém mais precisa ser diplomado, fui comemorar com minha pequena. Depois de um delicioso almoço (que nos levou uma boa grana), fomos assistir a um bom filme (na verdade não foi tão bom assim, e, se quer minha dica, não vá ver “Eu sou o número 4”), visitamos um casal de amigos e seu bebê, e por fim passamos na livraria.

Quase sempre é uma alegria ir às livrarias, mesmo que não leve livro algum. Percorrer as diversas seções em busca de novidades, raridades ou até mesmo curiosidades literárias, folhear uma ou outra revista, tomar um expresso, tudo isso é bastante gratificante.

Tudo ia bem até encontrarmos uma ex-colega de faculdade (acho que posso chamá-la assim, mesmo nunca tendo estudado juntos; éramos apenas alunos da mesma instituição) trabalhando na livraria. Logo fui surpreendido por um caloroso abraço e demonstrações de intimidade que, cá pra nós, nunca existiu. Com amigos em comum, boa educação e o mínimo de cordialidade, vez por outra trocávamos algumas palavras durante os intervalos para um cafezinho, mas nada que nos tornasse grandes amigos.

Mas, tudo bem! O que realmente me deixou de saco cheio foi o fato de essa pessoa querer se vangloriar por suas conquistas pessoais, o que pra mim não representava muita coisa. Fazia questão de repetir várias vezes que estava no mestrado e que fazia isso e aquilo, como se sua declaração a elevasse a um nível muito além do normal. Bom, não estou no mestrado e minha repugnância àquela conversa nada tem a ver com inveja. Afinal, hoje não sou doutor em qualquer coisa devido às diversas escolhas que fiz na vida, não por incapacidade. Tenho uma breve impressão de que esse tipo de pessoa não consegue algo realmente significativo em sua jornada, pois se deslumbra com tão pouco apesar de achar que é tudo.

Seria injusto se minha viagem terminasse de maneira tão frustrante, foi então que nos deparamos com “Bala na Agulha (reflexões de buteco, pastéis de memória e outras frituras)”, livro de crônicas e reflexões de ninguém menos que o cantor e compositor Zeca Baleiro. Eis aqui um artista (no mais completo sentido da palavra) que admiro, acompanho e recomendo. Não bastassem suas embaladas e emocionantes canções e letras inteligentes, seus textos não fogem à regra. Com críticas apuradas e diretas, argumentos plausíveis e o seu característico humor ácido, este merece ser acompanhado de um bom vinho (bom aqui quer dizer do seu gosto). O melhor de tudo é que ainda conseguimos um desconto na compra do livro.

Ainda extasiado com a nova aventura em minha terra natal e esse valioso bem em mãos, sugiro que busquem o seu também.