Por Anderson Souza

Arquivo: Wendel Bessa
Depois de algum tempo, resolvi que as entrevistas feitas aqui mereciam uma coluna com nome específico. Entre outras coisas, isso me livra do tempo que passo pensando em títulos interessantes para cada postagem. Mas, o motivo principal é a confirmação de que todo o assunto tratado não tem nem terá a intenção de agredir a quem quer que seja. Assim, o nome escolhido para título permanente nos garante um diálogo em que todos possam se sentir à vontade, tanto para perguntar quanto para responder.
E para inaugurar nossa pequena reformulação estética, poética e conceitual, conversamos com Wendel Bessa, vocalista da banda Agressivos. Alguém que durante anos vem contribuindo intensamente, de maneira direta e significativa, para a evolução da cena rocker local. Além de bandas, suas produções passam por fanzine, shows e sites especializados. Inteligente e focado no que diz e faz, nosso gigante da música pesada nos fala como dá conta de tudo com resultados satisfatórios.
NEW BRUTALITY – Quais motivos levaram você a montar uma banda de rock?
WENDEL BESSA – Na verdade, até hoje não sei o motivo real. Mas, conheci algumas pessoas que na época tinham banda. Eu ia aos ensaios e, então, com uns amigos, resolvi formar uma, pois escrevia muito sobre coisas e tive vontade de me expressar de tal forma.
NB – Você é o único membro original da Agressivos, que existe há pelomenos 10 anos. Como foi para você reformular a banda e as músicas?
WENDEL – Penso que a Agressivos tem vida própria. Quero e desejo muito que ela vá adiante, mesmo se um dia tenha que sair. A reformulação, na verdade, vejo como um amadurecimento, uma atualização, pois todos precisamos acompanhar o que acontece a nossa volta. Acho necessário que as coisas sejam melhores e mais aprimoradas, conseqüência do acréscimo de influências da formação atual. Pra mim, esta está sendo a "banda dos meus sonhos". Apesar de tocarmos juntos, a energia vai muito mais além, é o que acreditamos. Somos uma família e isto me motiva no dia-a-dia.
NB – O hardcore é o estilo predominante no seu som. Quais outros elementos você adiciona à banda?
WENDEL – Vai de Trash, death metal ao grind. Nos consideramos uma banda de som extremo; as nossas influencias e gostos musicais são bastante parecidos.
NB – Que tipo de mensagem você busca transmitir para seu público?
WENDEL – Gosto de ver todos felizes, em paz, travados, doidões, de cara. Mas o que gosto mesmo é que todos tenham a consciência do mundo e situação em que vivemos. Somos a plebe, somos os operários que fazem as contas bancárias e os bolsos dos burgueses andarem sempre cheios de grana. Gosto quando vejo pessoas se valorizando pelo que são e não pelo que têm. A mensagem é ser agressivo de atitude. Muitos acham que tem haver com violência, mas isso só quando necessário. A idéia é: saia, curta, faça o que achar melhor de sua vida, mas vá e volte na paz e respeite as diferenças!
NB – Outra banda sua de destaque no underground foi a 7 Anões. Por quea banda acabou?
WENDEL – Porque não teve forças. A maioria das coisas dependem de um homem só, e eu tive que optar por ter uma vida lado B também, me dedicar aos estudos e trabalho. Para minha vida lado A, tinha que escolher dedicar tempo à banda que tivesse mais força e foi a Agressivos que continuou. A 7 Anões ficou na responsa dos outros componentes que não tiveram condições de prosseguir, nenhum dos componentes tomou o comando para poder continuar. Se isso tivesse acontecido creio que até hoje estaria tocando guitarra nela.
NB – Há muito tempo sua participação na cena de Salvador se mostra por meio de bandas, eventos e diversas outras realizações. O que te motiva a produzir tanto sem ter um retorno financeiro satisfatório?
WENDEL – O que ameniza é um raciocínio que tenho sobre a existência humana, se não temos respostas, então, é melhor viver! Gosto do que faço, do que vivo, dos meus amigos e família, gosto do meu som e ele é energia para minha vida. Quero viver para um dia ver a nossa cena em tamanho imensurável, as bandas nas melhores condições possíveis, os eventos apoteóticos. Dinheiro é conseqüência de um bom trabalho e planejamento; se a cena se organizar para tal, o objetivo com certeza será alcançado e a conseqüência é obvia. Enquanto tiver outras formas de ganhar, sustentaremos o nosso cotidiano underground. Faço pelo som!
NB – Hoje você também comanda o Atitude Rock, uma rádio on-line. Fale-nos como tudo funciona e como as pessoas podem participar.
WENDEL – A Atitude Rock, na verdade, é um projeto que está "engatinhando". Foi idealizado por Erisson, um grande amigo. Ele tem essa rádio, então, resolvi fortalecer o projeto com ele. É um site onde se pode ouvir músicas de bandas locais e de todos os lugares e estilos, tem um chat para bater papo on-line, release de bandas, vídeos, e matérias em geral. A idéia é essa, mas ainda faltam tanto apoio de bandas quanto de pessoas para movimentar as informações. É só entrar em contato, caso haja interesse - http://www.atituderock.net/ - ou então procurar a comunidade Atitude Rock no ORKUT. Se não conseguirem, entrem em contato através do perfil da banda Agressivos.
NB – Você é uma pessoa bastante conhecida no meio rocker. Qual o ponto positivo e negativo disso?
WENDEL – O negativo é que tem muitos que me chamam de boçal, de idiota, disso ou daquilo, acham que sou oposição e etc. Por incrível que pareça, deve ser mais negativo para quem não vai com minha cara do que pra mim mesmo (risos). O positivo é o fato de ser conhecedor da cena, das bandas, do público, pra mim um dos mais importantes, e ter acesso e amigos em praticamente todos os lugares que vou; e quando chego nos lugares sempre tem alguém pra oferecer uma dose de birita.
NB – Como é o seu relacionamento com outras bandas, produtoras e público?
WENDEL – Com as bandas é bom até onde me deixam chegar. Se eu encontro resistência, cara amarrada, clima de concorrência, vira estatística. Agora, se encontro pessoas a fim de fazer parte da família, já é! Trocamos contatos, nos falamos, nos encontramos para beber sem compromisso de palco e/ou etc. Aumento meu círculo de amizades, gosto disso pra karalea. Também tenho um bom relacionamento com produtores e produtoras, sempre me coloco à disposição para ajudar, aconselhar, independentemente de se vou tocar ou não. Sou fominha de shows, se pudesse iria a todos, e gosto quando a festa fica bonita. Sou público também, então meu relacionamento é no mesmo nível, conheço gente pra karalea que assim como eu gosta de ir a um som e beber, se empurrar, dar risada e voltar pra casa na paz e pronto pra próxima.
NB – Você acredita que as pessoas que curtem rock ainda sofrem preconceitos? Em que sentido?
WENDEL – Acho que o único preconceito hoje em dia é de quem não gosta, o povo que não tem condições intelectuais e até mesmo um "feeling" de entender o que é ouvir uma música que faz sentido e passa uma mensagem, não desmerecendo outras vertentes. Acho que cada um merece seu espaço e o respeito deve prevalecer. Falo isso porque conheço mães, pais, tias e até avós que curtem o som e até pedem as músicas das bandas para ouvir em casa.
NB – Como foi a experiência de tocar com um grupo de bandas japonesas,além da brasileira Mukeka di Rato?
WENDEL – Foi muito interessante, acho que isso deve se repetir, também mostra para todos aqui que o nível musical é o mesmo, só que eles se organizam lá e tem produtores e empresários que apóiam. Além da estrutura boa, gostaria de ver mais coisas assim acontecerem aqui em nossa terrinha.
NB – Parece que durante o show houve uma grande confusão. O que defato aconteceu?
WENDEL – Uma gangue de motoqueiros suzukinha 125 estava no evento com chave de rodas, soqueiras e até nutchaku, com consentimento de um dos produtores do evento. Os caras estavam batendo em todos que encostavam no limite que eles acharam de criar. Quando vi um deles batendo em um jovem lá, tentei separar, mas vi que a coisa ia além de uma confusão, eram pessoas adultas brincando de ganguezinha. Tratei de ir embora, pois onde fui criado sei que essas coisas acabam com alguém no prejuízo. É muito difícil eu sair no prejuízo, tenho uma ótima criatividade para brigas, confusões e afins, mas não vi motivo óbvio. A festa estava bonita e eles acabaram com o clima, preferi ir para um bar com meus amigos e resenhar a ótima apresentação da banda, nem vi o fim do evento. Sei que o cara ficou lavado em sangue, prestei minha solidariedade, nem estava na produção do evento, mas fui lá falar com ele. E fiquei pensando se dava risada ou ficava com raiva ao ver um monte de homens de cabelos grisalhos, pais de família, sim, alguns têm filhinhos que andam soltos por aí, com ferros e soqueiras se achando os "mais homem" da parada. Hoje em dia as pessoas realmente não sabem com quem estão se metendo.
NB – Você é seguidor da trilogia: sexo, drogas e rock n’ roll?
WENDEL – Sou considerado um grosso pelo meu tamanho e expressão sempre séria, mas sou um cara legal, assim me vejo. Sexo é muito bom, não me vejo sem ele. Drogas, com moderação todos podem curtir. E rock n' roll or die!!! Sou um cara que durante a semana come bem, pratica esportes e se cuida, mas nos finais de semana queria ter um alambique em casa.
NB – Como você percebe a cena soteropolitana hoje?
WENDEL – Está amadurecendo, precisamos nos comunicar mais, ter um "point" onde o "mitier" pode se encontrar para organizar as coisas. De formadores de opinião fortalecendo mais a cena. Que a cena dos bairros se fortaleça, façam um tipo de intercâmbio entre si, e que percam o medo de ir em Paripe, Cajazeiras, Cabula, Plataforma e etc. Sei que ainda tem muito dessas, quando eu comecei a andar na cena, eu e meus amigos íamos em vários bairros comer água ao som de um violão. Trocar idéias, isso é muito bom e fortalece. Outra questão é a "cultura" do ingresso, muitos ainda acham um sacrifício pagar pra ver uma banda local. É complicado, pois a partir do momento em que as bandas não ganham nada, as mesmas não incentivam muito esse lance de pagar pra entrar. Então, os produtores deveriam usar mais a criatividade quando forem formular um evento, procurando uma solução para que as bandas que irão tocar tenham algum tipo de retorno e incentivem ao seu "público" a pagar a entrada e assim todos ficam satisfeitos.
NB – Em algum momento você se sentiu ofendido com as perguntas feitas pelo blog?
WENDEL – Porraa!!! Vou falar além... Velho você é uma pessoa que gosto pra karaleo, sempre admirei seu trabalho como músico e desejo que tudo que faça, você consiga expressar essa pessoa que é! Verdadeiro! Em nenhum momento as perguntas me ofenderam! Muito pelo contrário, e até mesmo se caso fosse, acho que minha obrigação como integrante de banda é mostrar um pouco do que sou e do meu conceito sobre qualquer questionamento feito por mim e/ou para mim e a cena da qual faço parte! Se precisar de mim, estou aqui!!! Abraço!
http://myspace.com/agressivos
5 comentários:
esse wendel é mó onda vei...
"Sou considerado um grosso pelo meu tamanho e expressão sempre séria, mas sou um cara legal, assim me vejo. Sexo é muito bom, não me vejo sem ele. Drogas, com moderação todos podem curtir. E rock n' roll or die!!! Sou um cara que durante a semana come bem, pratica esportes e se cuida, mas nos finais de semana queria ter um alambique em casa."
sobre o alambique eu to parando de beber...
Boa entrevista Led, brocou nas perguntas!!!
Parabéns.
Perguntas inteligentes para respostas a altura Parabéns Led e Wendel
Por problemas técnicos comento essa ótima entrevista tardiamente.. rs
Achei massa a iniciativa. Sempre quis fazer, mas pela minha posição sempre tive um pé atrás. Sei lá, de acabar sendo parcial além da medida. Conheço Wendel há um tempo razoável e sei que tudo isso que ele responde é super sincero.
Muito oportuna, a entrevista mostra um pouco como é essa pessoa incrível. Grande parte do que ele diz sobre o que os outro pensam dele consigo comprovar.
Muita gente, a primeira vista, tem uma concepção totalmente equivocada e muitos já vieram até a mim para dizer isso. Apenas me reservo a pedir que o conheça primeiro antes de julgá-lo por seu porte físico, sua "cara de mau" ou por sua postura no palco e na vida.
Ele é assim. Tá aí pro que der e vier. Pra somar. Basta querer.
Por ele, rasgo seda mesmo.
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