quinta-feira, 4 de junho de 2009

NOSSO ABRIGO, NOSSA PRISÃO!
Por Led Beslard



Há uma grande contradição entre a concepção comum de liberdade, amplamente difundida na sociedade em que nos inserimos, e a realidade de fato. Podemos perceber que cada vez mais nos aprisionamos em nossas residências. O que é mais perturbador, porém, é que a razão de tal encarceramento voluntário é a busca por segurança, privacidade e conforto.

Passamos a vivenciar nossa suposta liberdade mantendo-nos todos em cativeiros, enquanto aqueles que cometem delitos os mais diversos, sem qualquer pudor ou piedade, ao contrário, têm garantido o direito de ir e vir livremente, direito este do qual suas vítimas acabam sendo privadas.

Em qualquer lugar, não importa a hora, pessoas são roubadas, agredidas e até mortas por conta de condutas sociais hostis, às quais estamos diariamente sujeitos. A sensação de insegurança nas vias urbanas, e até mesmo nas rurais, é crescente. O crime e a violência parecem já fazer parte da cultura brasileira.

Mas, engana-se quem pensa poder manter a própria segurança e a de sua família portando uma arma, por exemplo (esse tipo de pensamento foi absorvido pelo american way of life). O perigoso risco de acidentes com armas disparadas no ambiente doméstico tem se concretizado cotidianamente. Que violência gera mais violência é lugar comum, portanto, o conflito armado só agravaria o estado de insegurança.

Já vi e ouvi diversas matérias com declarações de delegados e especialistas da área de segurança pública dando algumas alternativas para que a população se sentisse um pouco mais protegida. As dicas iam da utilização de grades, cadeados, alarmes, passando por um horário determinado para sair e retornar a casa, não portar muito dinheiro ao circular pelas ruas, até o cúmulo de contratar guarda-costas, ou ainda, colocar todos os bens aos cuidados de uma seguradora.

Tudo isso pode ser conseqüência de uma ordem político-ecônomica corrupta, que propicia benefícios a si mesma através de troca de favores. Inclusive as leis que regem nossa sociedade são criadas por eles, com eles e para eles. Mas, em momento algum vemos o Estado assumir sua responsabilidade e culpa pela situação caótica de insegurança, para a qual acreditamos não haver mais solução, e talvez seja por isto que buscamos inverter os papéis fazendo do nosso abrigo nossa prisão.

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