sábado, 7 de março de 2009

O MUNDO É DAS MULHERES?
Por Anderson Souza


Foto: David Campbell.

Em comemoração ao dia Internacional da Mulher, 08 de março, entrevistamos Ilani Silva, da banda Endometriose. Formada em 2006, na cidade de Feira de Santana – BA, a banda vem conquistando o público de Salvador assim como de sua cidade natal. Composta apenas por garotas, a Endometriose conta com Ilani Silva (baixo), Adriana Lima (vocal), Amanda Queiroz (guitarra) e Norma Juliete (bateria). Influenciadas por bandas como Bikini Kill, Dominatrix, Bulimia, Inkoma, L7 e Nirvana, mandam um som direto e nervoso com letras que discutem igualdade de direitos entre homens e mulheres.

NEW BRUTALITY – Por que montar uma banda composta só por mulheres?
ILANI SILVA – Eu sempre quis ter uma banda só de meninas desde que comecei a tocar baixo, porque na maioria dos shows que fui nunca vi uma banda composta só por mulheres. Eu sempre me perguntava o porquê dessa falta, pois há muitas meninas que tocam. Então, um amigo meu disse que sua namorada estava querendo montar uma banda só de meninas e me apresentou a guitarrista Karla Janaina e a baterista Norma Juliete, isso em 2005. Essa foi a primeira formação da banda. Nesta época tocávamos um som mais pop rock. Depois de muitos problemas com preconceito mesmo, eu e Juliete começamos a nos envolver mais sobre a questão do feminismo, e a partir de então montamos uma nova banda com o intuito de pregar a ideologia que tem como finalidade a libertação das mulheres em qualquer que seja a situação. É liberdade de escolha, de direito. Por que quase tudo na sociedade temos que parar pra pensar se podemos ou não fazer isso? Como os homens e mulheres machistas também vão nos avaliar? Quase nunca podemos ter nossas próprias decisões por conta do preconceito. Então a Endometriose tomou este novo rumo.

NB – Isso também não seria uma forma de preconceito?
ILANI – Forma de preconceito ter uma banda só de mulheres? Nossa! Claro que não! Há tantas bandas formadas só por homens, porque nós também não podemos ter uma banda composta só por pessoas do nosso sexo?

NB – Qual a sua opinião a respeito dos grupinhos de garotas, conhecidas como “groupies”, que seguem algumas bandas?
ILANI – Há “groupies” em todo lugar, não só de meninas quanto de garotos também. Acho que faz parte do pensamento de cada uma seguir uma banda ou não. Se a banda tem algum seguimento, seja político, religioso, etc. Acho que cada um tem total liberdade para fazer suas escolhas e seguir o que bem entender. O que eu não acho legal é você seguir uma banda apenas pela beleza dos componentes, porque aí acho que você está agindo de forma imatura. Mas como já disse, cada um tem a liberdade para fazer o que bem entende e não condeno também ninguém por isso.

NB – A banda é de Feira de Santana, mas por diversas vezes tocou em Salvador. Qual a principal diferença entre o público de cada cidade?
ILANI – É sempre um prazer pra nós da Endometriose tocar em Salvador. Acho que cada público tem uma energia diferente. Os soteropolitanos geralmente nos tratam com tanto carinho que parece que estamos tocando em casa. É uma recepção e tanto! E em Feira de Santana temos o nosso público formado que já canta as nossas músicas, então é uma sensação também maravilhosa!

NB – Algumas pessoas, quando em shows de bandas femininas, prestam mais atenção às pernas das garotas do que ao som. Como vocês reagem aos possíveis assédios nos shows?
ILANI – Quando percebemos que já começamos a ser insultadas, porque para mim esses assédios não passam de insultos, paramos o show e fazemos um discurso explicando que aquela atitude é errada, afinal estamos ali pra tocar e não pra ninguém ficar olhando o nosso corpo, não somos objeto!

NB – Por que a imagem da mulher, geralmente, está associada ao sexo?
ILANI – A imagem da mulher geralmente está associada a objeto sexual, eu diria. Por vários motivos, desde os primórdios da humanidade sempre fomos consideradas como objeto mesmo, a gente não tomava decisões, estávamos ali pra satisfazer as necessidades físicas dos homens. Então, depois que o movimento feminista surgiu, muitas dessas ações não fazem mais sentido. Só que muitas pessoas ainda não tem consciência sobre isso, e educam os homens para se acharem superiores a nós e as mulheres para serem vistas como santas. Só que nunca fomos santas! E temos o direito de não ser. Outro fato importante, é que antes, havia também todo um resguardo da virgindade da moça. Então todas as preocupações eram para que ela casasse antes de ter relações. Só que novamente o movimento feminista veio e acabou com isso (claro que tem lugares que ainda prezam pela virgindade da mulher, só que já está uma situação bem desgastada), então a preocupação que antes era atribuída à virgindade passou a ser relacionada à beleza. Hoje vivemos a ditadura da beleza. A mulher não tem o direito de não seguir os padrões de beleza impostos pela mídia. Senão é falada. As pessoas se preocupam com isso. Então quando uma mulher passa, ela transmite aquela idéia de objeto sexual porque também sempre é um ser considerado inferior. Que não pensa, que não tem decisões, que só serve para procriar e ser dona de casa. E tem que ser “bonita” senão não presta.

NB – Outra associação feita às meninas que tocam em bandas é de que elas são lésbicas. A que se deve essa suposição?
ILANI – O movimento feminista sempre esteve rodeado de lésbicas. Geralmente quando se fala de uma garota feminista, tem essa analogia. Ou também por um preconceito, da idéia de que lésbicas geralmente são seres masculinizados. Aquela mesma idéia de que só homem sabe tocar, e se uma mulher toca é porque ela tem uma parte masculina no seu corpo que lhe faz tocar. Mas nem toda menina que toca em banda é lésbica.

NB – A banda pretende lançar algum disco ou prefere continuar divulgando suas músicas pela internet?
ILANI – Estamos nos organizando para começarmos a gravação do cd esse ano. Por problemas financeiros não gravamos ainda. Mas acho que esse ano sai. Aquela gravação no site do myspace é só uma demonstração do que fazemos, e para as pessoas também começarem a entender o que tocamos, do que falamos. Não queríamos vender um cd sem qualidade. Por isso, essas músicas continuarão na internet. E as de boa qualidade vamos fazer um cd bem preparado para o publico que curte o nosso som.

NB – Qual principal meta da Endometriose até 2010?
ILANI – Nossa meta principal agora é gravar o cd e compor mais músicas. Temos muitas letras que estão faltando melodias, então já tivemos o primeiro ensaio depois do Palco do Rock e já começamos a criar novas músicas. Outra meta que temos é tirar do show o maior número possível de covers, pois acho que a banda tem que divulgar mais o seu trabalho. Portanto, estamos nos esforçando para fazer mais composições. Então, tem muita novidade nos próximos shows da Endometriose até 2010.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao blog por esse especial do Dia Internacional da Mulher. Teve uma época aqui em Salvador que tinhamos muitas bandas de meninas, e eram até boas, porém acho que a "fase" passou e ficamos com essa carência, hoje em dia pouco de se vê, e a Endometriose (apesar de não ser de SSA), é um diferencial por isso, ainda não vi o show das garotas, pois quando cheguei ao PDR elas já tinham tocado, mas ouvi falar bem. Espero sinceramente que as garotas não cresçam e parem de tocar, pois a única banda de garotas que ainda existe, da minha época é o Dominatrix, e as respeito muito por isso, por não deixar a militância e principalmente pelo fato da causa feminista não ter sido apenas uma fase rebelde de suas vidas.

A entrevista ficou foda!!!!Gostei das alfinetadas que deu, isso é bom para ver a postura do entrevistado, adoro ler entrevistas assim! Parabéns!

Anônimo disse...

Que menina é essa. Fiquei até com vontade de ouvir a banda depois dessa entrevista

JP