sábado, 24 de janeiro de 2009

1, 2, 3... GRAVANDO!
Por Anderson Souza


fotolog.net/jelmet

Realizando gravações e mixagens de importantes bandas de rock do cenário soteropolitano, como a Cobalto, Drearylands, Lumpen, Malefactor, entre outras, Jerônimo Cravo Rio Branco, ou Jera Cravo, como é popularmente conhecido, tronou-se um dos mais requisitados profissionais da música em Salvador. Principal responsável pelo estúdio Vértice, divide seu tempo entre produzir e tocar. Baterista de longa data, passou por diversas bandas, todas de expressivo destaque no meio rocker. Nesta entrevista, Jera nos fala sobre sua formação, suas atividades como empresário, produtor, engenheiro de som e músico, além de gentilmente esclarecer alguns detalhes de um processo de gravação.

New Brutality – Você é formado pelo Musicians Institute, Los Angeles – Estados Unidos. Como foi todo esse processo de estudo fora do Brasil?
Jera Cravo –
Me formei no RIT (Recording Institute of Tecnology) que é o curso de áudio, ou era o curso de áudio na época, em 2001. Na realidade eu já estava nos EUA e o curso apareceu como uma oportunidade que não pude recusar. O início, logo, foi um pouco "tenso", pois eu ainda não estava 100% familiarizado com o inglês técnico para o curso, mais em algumas semanas tudo foi se normalizando.

NB – O Vértice é um dos mais conceituados estúdios de Salvador. Há quanto tempo você comanda o estúdio?
Jera –
Eu fui dono sozinho do Vértice de maio de 2002 até outubro de 2008. Agora sou sócio do Estúdio 60, que é a fusão do Vértice com o Sonora, além de outras atividades, como estúdio de Tattoo, customização de roupas e Vibrato Sonorização.

NB – Além de produtor musical você também é baterista. Por quais bandas passou?
Jera –
Em ordem cronológica hehehe. Tênis Surrado, onde sentei numa bateria pela primeira vez, Pimps, Dive, Cobalto, Automata, Lou, A Sangue Frio, Hoje Você Morre e Pessoas Invisíveis. E já toquei bateria em gravações para outros projetos que não esses citados...

NB – Como você concilia todas essas atividades?
Jera –
Antigamente era mais complicado, pois eu trabalhava os 3 turnos, fins de semana, etc. De pouco mais de um ano pra cá, regulei mais meus horários e tento sempre trabalhar como produtor/engenheiro de som nos horários comerciais, e aí fico com as noites e fins de semana livres pra tocar ou descansar...

NB – Para um produtor existe algum tipo de inspiração na hora de definir a estrutura de um projeto ou o importante é mesmo a técnica?
Jera –
A inspiração faz parte do trabalho, assim como a técnica. Um sem o outro limita muito seus horizontes. A identificação com a música é essencial, na realidade, a inspiração vem com a identificação, na minha opinião.

NB – Quais são, verdadeiramente, as necessidades e problemas enfrentados pelas bandas de rock soteropolitanas?
Jera –
Precisamos de profissionalismo, não só das bandas, mas dos produtores, das casas de shows, dos locadores de som, etc. Precisamos de mais casas para eventos. Precisamos de mais divulgação dos trabalhos. Os problemas são basicamente esses que citei, são problemas que causam as necessidades de soluções, mas que no fim das contas, eu não vejo uma mudança num futuro próximo.

NB – Você já produziu diversas bandas daqui de Salvador. Qual foi a que te exigiu mais tecnicamente na hora de gravar?
Jera –
Não vou citar nomes. O lance é que quanto mais insegura e inexperiente a banda, mais trabalho eu tenho para chegar onde queremos. Bons músicos com experiência fazem tudo acontecer mais fácil.

NB – Qual a principal importância da sala de gravação na hora de registrar um som de peso sem perder o punch e o vigor das músicas?
Jera –
A sala de gravação tem total influência no som da bateria, violão ou de instrumentos de sopro ou percussivos. Sala morta acaba com o "sustain" de um tambor por exemplo. Se a sala tiver muito grave, um violão de aço vai soar grave demais e você vai acabar tendo que corrigir depois, e por aí vai. Pra guitarras distorcidas, baixo e voz, normalmente, eu prefiro uma sala bem seca pra que ela influencie o mínimo possível na captação.

NB – Explique um pouco o que sejam as dobras de guitarras e qual sua função.
Jera –
Dobras são duplicatas, não idênticas, de uma determinada parte. Servem para dar peso nas guitarras distorcidas de uma base, por exemplo, ou para destacar um fraseado ou tema. Digo que são duplicatas não idênticas porque o músico deve tocar elas repetidamente, o mais idêntica possível para que fiquem com punch, mas nunca são idênticas, então isso cria uma dimensão diferente na sonoridade.

NB – Esse recurso se aplica a outros instrumentos?
Jera –
Eu não aplico normalmente. Só em guitarras, violões, algumas vozes, alguns metais. O resto só se estiver procurando uma sonoridade diferente.

NB – Qual o método de gravação que melhor se aplica ao rock?
Jera –
Na minha opinião, o mais cru e visceral possível, obviamente sem perder a qualidade. Sonoridade limpa, cirúrgica, artificial, pra mim, não é a melhor escolha. Porém hoje em dia a sonoridade mais artificial está dominando no rock moderno americano por exemplo.

NB – Qual a seqüência utilizada para gravação de cada instrumento?
Jera –
Normalmente, bateria, baixo, guitarras, vozes e efeitos/teclados.

NB – Há bandas que incorporam diversos efeitos às suas músicas. Na hora de gravar como funciona esse processo?
Jera –
Os efeitos normalmente são adicionados na mixagem, a não ser que, por exemplo, um guitarrista tenha um bom arsenal de pedais que queira usar, aí prefiro já gravar com os efeitos. Porém, normalmente os reverbs são adicionados depois, mesmo que o guitarrista tenha um pedal legal. Efeitos de voz, baixo, bateria, etc, todos são adicionados depois de gravados os instrumentos, na hora da mixagem.

NB – Sabemos que num estúdio podemos atingir inúmeras sonoridades para uma música. Como obter um bom som na gravação e conservar a qualidade e os detalhes de cada composição nas apresentações ao vivo?
Jera –
Nas estruturas que encontramos em shows em Salvador? É praticamente impossível.

NB – Quais são os direitos e deveres que um músico ou banda devem ter na hora de ir para o estúdio?
Jera –
Na minha opinião, os músicos devem saber tocar o que estão dispostos a gravar, de trás pra frente no escuro. Basicamente, deve dominar a técnica pra executar o que quer. Não estou dizendo que o cara tem que estudar pra tocar que nem um virtuoso ou sei lá quem. Mais se ele quer tocar uma guitarra cheia de nota, toque direito. O mesmo para o cara que quer tocar pouca nota, toque direito. Faça sua parte soar direito no instrumento. Essa é a obrigação número um mais que quase ninguém faz. O músico tem o direito de exigir atenção, respeito e capacidade técnica do responsável pela gravação, é o mínimo também, mas que nem sempre é assim.

NB – Qual dica você dá para quem pretende gravar?
Jera –
Estude sua parte, estude seu instrumento, sua técnica, seu som. Pesquise os estúdios onde pretende gravar, converse com os responsáveis, infelizmente, deve rolar um mínimo de simpatia com a pessoa com quem você vai trabalhar. O estúdio tem que ser organizado, tudo tem que estar claro sobre valores, horas, equipamentos. Ensaiem muito, ensaiem apenas baixo e bateria, baixo e guitarra, guitarras e voz, guitarras e bateria, conheçam a música que vão gravar.

2 comentários:

Jorge Santiago disse...

eaahh Beslard! Estou acompanhando todps ps seus posts, ae muito boa a iniciativa viu cara, parabéns mais uma vez!!

Anônimo disse...

Execelente entrevista, gostei das perguntas, bem elaboradas pra caralho, um dos blogs novos que descobri que me encantou.