SEM CONSTRANGIMENTO!Por Anderson Souza
Arquivo: Cleber SilvaApesar de não acreditar que as perguntas feitas, tempos atrás, aqui em nosso blog partiram de outros jornalistas, músicos, blogeiros e do público geral, Cleber Silva, responsável pela comunicação da ACCR-BA, torna públicas as tão esperadas respostas (ao que parece, também feitas em coletividade). Nenhuma vírgula foi adicionada, retirada ou modificada na redação recebida. Portanto, divirta-se!
NEW BRUTALITY – Não se trata de uma entrevista para emprego, nem tão pouco de uma nova CPI brasileira, mas nos relate um pouco sobre sua formação e como entrou para a diretoria da Associação Cultural Clube do Rock da Bahia.
CLEBER SILVA – Ainda este ano estarei graduado em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Jorge Amado. Porém, antes mesmo de me tornar um estudante da área, colaborei com meu amigo Ajota Nascimento no Programa Reação, na rádio comunitária Geração FM, do Parque São Cristóvão, onde moro. Passava para ele o apanhado de notícias e separava bandas baianas de rock para fazer parte de nossa programação, que começou a ir ao ar aos sábados e depois passou a ser diário. Levamos algumas bandas para entrevistas, homenageamos e até fomos homenageados no encarte do cd da banda Mundo Tosco, em 2005. Paralelo a isso, já escrevia bastante coisa, desde críticas de cunho político a poesias e algumas (da primeira opção) foram publicadas em alguns jornais de Salvador na seção de “Carta ao Leitor”. Também mantinha um blog, enquanto a blogosfera ainda não era tão utilizada, apesar de que grandes nomes do jornalismo brasileiro (principalmente) já expunham suas opiniões em seus respectivos blogs.
Em 2004 eu me aproximei da associação para ter uma certificação. Eu ainda pensava que tudo era mais fácil para aquelas bandas que estavam no Palco do Rock, por exemplo. Logo, tinha uma visão segmentada daquilo, principalmente depois dos episódios de 2001. Me aproximei “todo armado”. Eu queria saber quem eram aquelas pessoas e como eu podia contribuir com o rock local. Fiz contatos, fui retribuído e depois da volta do Palco do Rock ao seu atual local comecei a ser colaborador até me tornar membro efetivo da área de comunicação, com ética, sinceridade e responsabilidade, que são atributos necessários, além de estar inserido na proposta, conhecer e ter vontade de somar a um grupo dedicado.
Também sou músico de horas vagas: baixista da banda Ignivomus há três anos.
MÚSICO – Já que vocês se consideram uma associação, por que os diretores nunca mudam e por que os associados não têm direito a ocupar cargo na diretoria? É uma associação ou ditadura?
CLEBER – Nos não nos consideramos, nós somos! Uma associação é constituída e ditadura é uma palavra que possui um significado forte e essa analogia talvez não fosse a mais apropriada. Na verdade a associação nunca teve tão bem com seu quadro administrativo. Foi resgatado o nome que estava na lama, e o próprio evento PALCO DO ROCK que fora cortado lembra, Sr. músico? Enquanto isto o número de especuladores que aparecem é surpreendente, mas isso é devido aos encaminhamentos que são atribuídos com sucesso.
Quanto à visão de que os diretores não mudam, já pude conhecer várias pessoas que foram diretores da associação e que já não são mais membros efetivos, mas sempre que podem colaboram mostrando que o que diz não procede. Mas, que nós consideramos bem típicos de muitos que se viram por aqui e, infelizmente, existem outros que foram participantes e querem atrapalhar de alguma maneira por motivos óbvios.
O que é surpreendente, ainda, é a falta de conhecimento sobre a história da associação, que vale a pena conhecer e está à disposição no nosso site
www.accrba.com.br. Para ser associado ou diretor, são necessárias as qualificações dentro do perfil da associação e pensar em somar. O próprio Led Beslard, interlocutor desta entrevista, já solicitou entrada ano passado.
É justamente isso! Buscar, integrar-se e conhecer o perfil da associação, sua história antes de qualquer coisa. Diversas vezes, quando acontecem algumas discussões via internet, na sua maioria é por desinformação e a primeira atitude é convidar a pessoa para nos visitar e conhecer melhor o trabalho desenvolvido. O que não é interessante são as especulações... a leviandade, saca? Que é o que gera constrangimentos em diversos momentos. Não estamos dizendo que só respondemos perguntas bonitinhas ou não estamos dispostos a críticas, mas que sejam construtivas para aprendermos e não que seja pura e simplesmente críticas infundadas de quem não gosta e de quem já se beneficiou das nossas iniciativas.
Ditadura? Tens certeza de que direciona essa pergunta à produção certa? Nós, que convidamos todos para as reuniões, integramos bandas e público na curadoria pública... Temos nossos critérios assim como qualquer banda, associação ou produtora. Não integraremos imediatamente uma pessoa que queira entrar no núcleo. Elas conquistam estes espaços. Muitos nos procuram para a busca de aprendizado por simples interesses pessoais de encaminhamentos de seus próprios projetos e nos deixa pra trás. Isso é trabalhar coletivamente? Acreditamos que não. Buscamos a melhor capacitação possível para a ocupação de nossas pastas.
MÚSICO – Como se associa à ACCRBA e quais direitos os associados têm?
CLEBER – A ACCRBA vem reformulando propostas para associados que se adequem aos mais variados momentos, principalmente quando tratamos de underground, que já é bastante abrangente e que identificamos como mercado independente da música. Os associados admitidos deverão ultrapassar etapas que o identifique dentro da cena e adeque-se a associação.
Benefícios: esta é parte estruturante e estamos trabalhando por agora. Como exemplo, a volta dos cachês das bandas que tocam no Palco do Rock, cortados há 11 anos. É o início de benefícios a serem apresentados e um dos maiores motivos para estarmos precavidos contra quem não fez nada, mas que quer tomar posse ou desarticular quem buscou com muito sacrifício pessoal. O resgate desta situação significa um benefício às bandas que, teórica e praticamente não possuem vínculos com a associação, mas participam. Conseguimos dar um importante passo que precisa de valorização para crescer ainda mais.
NEW BRUTALITY – Qual sua posição a respeito do possível fim da profissão regulamentada de Jornalista?
CLEBER – É uma faca de dois gumes. No passado, o jornalista era aquele que escrevia no jornal e pronto. Hoje, depende do jornalismo, a meu ver. Depende muito da proposta. Eu não sou contra o Dr. Sócrates, por exemplo, ter sua coluna na Carta Capital (faz tempo que não leio, então, desculpem se eu estiver desatualizado) e falar de medicina e futebol, ou o Tostão (não sei sua formação acadêmica, são só exemplos) escrever para praticamente todos os jornais de grande circulação do Brasil aos domingos e falar do que entende, com sua opinião, o que também defendo desde que em seus devidos lugares. Quem mostra competência pode fazê-lo sem ser formado, porém, faz-se necessário cursos para reciclagem, especificidades da área, respeito a determinações, ética, etc. Não tenho uma opinião formada sobre a generalização neste caso. Acredito que todos os casos deveriam ser observados, no entanto, há um problema entre desburocratizar e aumentar a burocracia, o qual não se resolverá nunca.
Mas, sendo um pouco irônico, tem jornalista que acha que conhece tudo e às vezes pode dar um tiro no pé quanto a informações específicas de determinado assunto. É como disse no início: uma faca de dois gumes que não se sabe por onde burocratizar e nem desburocratizar e como sempre se discute algo em clima de BA-VI (rivalidade), ou são oito ou oitenta. Eu ando somando e ponderando as possibilidades. No entanto, aqueles formados também são suscetíveis a erros e desvios de conduta. Um profissional formado pode ser completamente antiético e desrespeitar leis e determinações por se considerar “diplomado acima de qualquer suspeita”, ganhando a opinião pública. Enquanto isso, profissionais capacitados que não têm diploma, mas têm o domínio do fazer jornalístico são descredibilizados. É o que falei antes entre desburocratizar e ser mais burocrático ainda. Isso, sem contar com o próprio público que, aos poucos, vai rejeitando a imagem do jornalista e com os avanços tecnológicos e as redes sociais tem editado sua própria maneira de lidar com o jornalismo, sendo o informado ou o informante, através de diversos canais. É a cibercultura que abre os espaços a partir da liberação do pólo de emissão. Qualquer um pode ser o emissor, no entanto, credibilidade adquire-se ou nunca terá.
JORNALISTA – Então, qual a razão de fazer um curso de jornalismo?
CLEBER – Caramba! A minha resposta anterior não se adequa a essa pergunta e nem à próxima. Mas, quero responder as duas e faço vontade da publicação.
Neste caso, como já expressei anteriormente, o jornalismo é diversificado. Não dá para acreditar que você vai fazer o curso, colar grau e entrar em rede nacional como âncora. Nem mesmo como repórter. O jornalismo diversificado abre margens para trabalhar em áreas como esporte, moda, cultura (música, cinema, literatura), lazer, tem o rádio, a internet (portais de notícias), agências de notícias e por aí vai. Ainda tem as Assessorias de Comunicação (Comunicação Integrada ou não). Assisti a uma palestra há pouco tempo atrás e o palestrante (desculpem meu esquecimento quanto ao seu nome) fora demitido recentemente, após 18 anos de trabalho, na Folha de S. Paulo, na área de Economia. Recebeu convites de deputados para o serviço de Assessoria de Imprensa e de outros jornais, com redução drástica de salário. Então, assim como ele, eu creio que há um romantismo enorme pela profissão e o fato de estar ligada à fama, de alguma forma, faz o jornalista, formado ou não, ter a impressão de que divide a mão-de-obra do mundo inteiro com algum criador, enquanto, por muitas vezes, atrapalha outros serviços, como foi o caso Eloah. E isso gera ainda mais discussão sobre fato e notícia: toda notícia é um fato, mas todo fato não é notícia. Ou pelo menos não é destaque, ou não é sensacionalismo.
Mesmo não cabendo a resposta nessas duas perguntas por conta da condição dada pelos entrevistadores (ou pelo próprio blog), respondi e conto com a publicação. Além disso, acredito que o jornalista que fez a pergunta deveria se identificar. Estamos aqui para recebermos as críticas e respondermos às perguntas, mas parece que respondemos pra ninguém, assim, sem a identificação. Espero que ele entre em contato pessoal e possamos conversar mais, pois o jornalismo é um assunto que, pelo visto, é um interesse em comum.
JORNALISTA – Por que você assume uma função que deveria ser de um profissional formado?
CLEBER – Com a licença dada a essa resposta também, eu não assumo lugar algum de profissional formado. Esta pergunta é absolutamente ofensiva e desrespeitosa... Como disse, trabalhei, pesquisei, fiz por onde para estar no núcleo. E estou nessa porque gosto mesmo do que estamos fazendo!
No entanto, não adianta nada uma pessoa graduada ter difícil relacionamento com o coletivo. Não foi levada em consideração a minha inexperiência como jornalista, mas passei pelo período de avaliação e até hoje sou avaliado, cobrado. Isso é uma obrigação estatutária: "Agir com boa fé e total respeito às normas de conduta, urbanidade e educação, principalmente em respeito ao Affectio Societatis** (**Vontade de constituir e manter uma sociedade e sem a qual, nas sociedades de pessoas, não pode ela subsistir.)"
Vou aproveitar a fala de Sandra em determinado momento para ilustrar um pouco mais do que falo: “Cleber é qualificado em vários aspectos para as nossas pretensões tanto na área jornalística quanto na área de relações humanas. É tranquilo e bastante equilibrado, sem históricos de problemas de relacionamento com ninguém. Se não tivesse correspondendo já teria andado. Não estamos falando de aspirante e cada pasta é desenvolvida com a participação de todos.” Não quero sobressair com este depoimento, mas apenas dizer que tenho o apoio daqueles que trabalham comigo.
NEW BRUTALITY – Como responsável pela comunicação da ACCR, você orienta os outros diretores quando eles são procurados para falar?
CLEBER – Somos verdadeiros com todos e muito bem articulados, por isso não há a necessidade de instruir um ou outro, pois o trabalho é realizado uniformemente. Mas, por aqui entendemos também que cada qual tem vida própria e opiniões diversas. Entramos, sim, em consenso em muitas ocasiões devido à questão do trabalho uniforme, mas não somos de acordo com a padronização excessiva do discurso, pois entendemos que nisso não há verdade. Isso é trabalho de "marketeiro" corporativista. Enquanto associação, aproveitando aqui os conceitos desenvolvidos pelos meus companheiros e, desta vez, o de Gabriel Amorim é presente: "temos o dever de andar paralelo a certos vícios de imagem e de mercado, pois senão, seríamos meramente formadores de produtos, e não agentes sócio-culturais." Entendam que não critico gratuitamente a questão do "ser produto", mas sim, que nos importamos principalmente com os aspectos sociais, da formação e capacitação ao acesso ao produto de forma democrática a todas as classes sociais e a quem interessar possa.
PÚBLICO – O Palco do Rock vem crescendo a cada ano. Este ano, por exemplo, a estrutura estava excelente tanto para as bandas como para o público. Porém, ainda vejo que a qualidade de algumas bandas está muito longe do que deveria ser para o nível e estrutura do Festival. A que se deve isso?
CLEBER – Hummm... Eu acredito que se deve à tecnologia aplicada nos estúdios. Não que seja determinante e um problema propriamente dito, mas tem sido uma ferramenta a mais para “maquiar” um som mal executado. Muitas bandas possuem um disco excelente, mas no palco decepcionam. Outro ponto é que seu critério talvez seja mais rígido se observarmos a subjetividade desses critérios. Uma banda que você detestou pode ser ótima para outrem. É difícil estabelecer parâmetros de “superbanda” a partir do gosto pessoal. Até as bandas que decepcionam recebem inúmeros elogios. Justamente por isso já estudamos uma forma mais abrangente de avaliação, que contemple quem realmente tem capacidade, mas aí vamos estudar também especificidades de cada estilo e subestilo.
Sendo mais pragmático, cada estilo tem uma forma característica na desenvoltura do instrumento, do canto, das letras... Uns mais trabalhados e outros menos. Uns mais sujos e outros mais brandos. Existe uma identidade que quem entende destes aspectos técnicos, com certeza, sabe diferenciar ou notar. Se você só entende exclusivamente de metal, de punk ou de indie, exclusivamente, essa não é para você. Se estamos falando de Palco do ROCK, estamos falando de TODOS os estilos POSSÍVEIS de rock.
Daí o próximo passo, considerado o mais importante: entender o conjunto de ações no entorno de uma banda. Diz no regimento interno do evento, disponível a todos na época de inscrição.
Dentro desta pergunta, aproveito pra responder uma que também sempre vem à tona por parte de muitos: "mas então, porque estilo tal não tocou nesta edição?". Respondo: solicite às bandas deste estilo para que enviem material. Nós é que não podemos bater na porta, ou obrigar ninguém a nada. Lançamos as inscrições para todos que tiverem interesse de se inscrever. Pra citar um exemplo, notei que este ano não teve UMA sequer banda de hardcore melódico. Já em 2006, quatro bandas deste estilo tocaram e teve gente ainda que fez piada com isso, chamando o evento de "palco do hardcore melódico". Enfim, nossa parte de democratizar o espaço nós estamos fazendo. Se falta interesse de outrem para ocupar esse espaço, paciência. Em qualquer festival no mundo, seja lá do que for, haverá os que se superam, se destacam um do outro o tempo todo, então não convém este tipo inútil de avaliação. O que compete é mais rigorosidade e assessoria para as bandas, isto vai ser mantido e apurado.
BLOG – Algumas bandas se inscrevem, mas as bandas que são aprovadassão realmente a de melhor qualidade?
CLEBER – As bandas são escolhidas pelos curadores com esta intenção e com regulamentos que levam a isto. Este ano sentimos muito por alguns contratempos, por não poder contar com todas as bandas que foram aprovadas na primeira triagem. Algumas tiveram problemas internos no decorrer do tempo que antecede o festival, outras de fora não responderam em tempo e perderam a vaga. Daí houve as substitutas que vão entrando nestas vagas de acordo com a classificação e são bandas aprovadas que receberam notas dos curadores, que dentro do que é proposto para o festival estabelecem os parâmetros. No geral passa quem é bom.
MÚSICO – Não está na hora de repensar a forma de selecionar essas bandas?
CLEBER – Repensamos pro PDR 2008 e 2009 e criamos a Curadoria Pública. Está na hora é de repensar a crítica também. Está na hora de participar desde as reuniões “Pensando o Palco do Rock” e nos dias de curadoria. Está na hora de discordar frente a frente, seja de banda, de curador, de diretor, de presidente.
Eu vejo isso como avanço. Você conhece algum método de seleção de algum festival de música independente do Brasil? Alguém lhe mostra o curador ou seleciona publicamente? Alguém lhe dá voz durante a curadoria? Nesses assuntos ninguém toca. Só querem dizer o que devemos fazer. Não quero dizer que os outros devam fazer assim, mas nós optamos por um formato que busca ser igualitário.
Eu não conheço o formato mais justo de nenhum festival. Se alguém conhecer me mostra, por favor.
Repito, repense a crítica, porque ela já vem de cajado. É... Está velha mesmo. Os avanços foram constatados. Produtores do Brasil já nos disseram que é uma ação corajosa e democrática. Mas, isso ainda requer aperfeiçoamento, pois sempre buscaremos o melhor para chegarmos aos melhores, sim. Todos buscam isso. Imagina se nos mesmos queremos estragar o nosso próprio festival... e outra coisa: imagina ficar tachando um festival que trouxe atrações importantes, reuniu um grande público e uma estrutura maravilhosa...
MÚSICO – Vocês acreditam que esse rock mais “fácil” de ouvir fará abrir as portas das gravadoras para as novas bandas?
CLEBER – Acho que a pergunta seria melhor se o tratamento estivesse no singular. Eu, Cleber Silva, acredito que sim. Rock no Brasil sempre foi a divisão entre o “fácil” de ouvir e o underground. Quem já tem a proposta do “fácil” (tem até aquele hit), tem maiores possibilidades, quem tá no underground caminha com as próprias pernas e com o apoio do público que comparece nos shows. Porém, esse “abrir as portas” não existe. Abrir a porta pra quem? Pro underground? Remodelagem é uma palavra que gosto de usar. Eles buscam no underground o que podem remodelar e transformar num produto de aceitação rápida (e de digestão rápida também). Se engana quem pensa que gravadoras são os portos seguros da música atual em tempo de defasagem do CD. Não é à toa que o próprio rock tem agregado valores de outros estilos. É só ver algumas bandas que não possuem cinco anos de estrada lançando DVD. É aquela velha coisa: lançar CD pra um público que consome música pela Internet não rola. Monta a banquinha em show com merchandising bacana e o cd vira item de promoção do ingresso... é uma dica que uma banda tem feito: Pessoas Invisíveis. Eu achei isso muito bacana. E olha que é um rock “fácil” de ouvir... Só depende do seu “ponto-de-audição”.
MÚSICO – Em 2009 vocês planejam fazer outros shows além dos eventos principais da ACCRBA, que são o Palco do Rock e Rock Batom?
CLEBER – Os eventos principais da ACCRBA são Palco do Rock, Prêmio Palco do Rock (anteriormente conhecido como Ressaca do Palco do Rock), Dia Municipal do Rock e Rock de Batom. Planejamos, sim! Há uma cobrança que faz bem e faz mal. Nos cobram mais shows, mas o custo disso é elevado quando se busca qualidade. Queremos participar mais, descobrir novos espaços, abranger mais áreas, mas isso sem apoio torna-se impossível. No entanto, a ACCRBA não está resumida em realizar somente shows. Ora bolas, o rock tem que se integrar na camada cultural do Estado para que espaços venham a existir. Participamos de seminários, fóruns, conferências de cultura - e eleitos delegados - e essas intervenções podem ser vistas no site, no youtube, e isso ninguém vê como ação. Principalmente quando uma de nossas propostas para a área da música no estado (aprovada na IIª conferência municipal de cultura, e após, estadual), num total de apenas 03 programáticas, foi aceita e adotada pelo coletivo. Esses momentos estão, inclusive, na TV ACCRBA, no nosso site. Pra quem só pensa em shows, Salvador pipoca de shows, mas, para quem quer solidificar o gênero como participativo, entender essas ações como essas é um ponto importante para o entendimento de nosso papel como cidadãos e como agentes culturais.
PRODUTOR – Como a ACCRBA analisa o nível das produções de shows no universo rocker aqui do nosso estado?
CLEBER – Falando pelos companheiros, por ser um tema já discutido em reunião, analisamos uma crescente oferta e uma decrescente demanda. Alguns shows atraem um público razoável com formas que avaliamos como negativas, mas cada produção trabalha do seu jeito. Outros shows são determinações e não só produções. De um lado a turma faz seu “corre”, monta o equipamento e “pau na máquina”. É assim em toda cidade. Porém, vejo que produções têm trabalhado com um esquema extremamente ruim, que é o da venda de ingressos como imposição. Se estamos no underground, entendamos a venda de ingressos como colaboração com o evento, mas não que isso seja uma imposição e um valor seja estipulado. Assim, todo mundo adere, mesmo que indiretamente, à campanha do “faça um produtor de rock feliz”. Já fizemos um esquema de venda de ingressos pelas bandas, mas NENHUMA teve a obrigação de vender. Estas prestaram contas do que venderam e ganharam uma porcentagem em cima de sua colaboração. Porém, ninguém se viu obrigado a pagar determinada quantia para tocar.
PÚBLICO – Eu gostaria de saber por que as bandas de metal são quase sempre as últimas a tocar?
CLEBER – Se você, caro amigo PÚBLICO, refere-se ao Palco do Rock, sendo “quase sempre”, não vejo problemas. Não pode mais ser sempre. Esse ano, por exemplo, a Suffocation of Soul tocou por volta das 19 horas, assim aconteceu com a Dimensões Distorcidas. A Hargos lá pelas 22 horas. De certo que outras encerraram, mas um evento começa e termina e, infelizmente, é necessário que algumas bandas que possuem público cativo encerrem. Devo ressaltar que, segundo arquivo da associação, muitas bandas de Metal solicitavam seus shows nestes horários por considerarem seus públicos mais fiéis e escudeiros para ficarem até o final. Hoje, as bandas já querem ser vistas por um público que não seja só o seu, talvez afim de angariar mais adeptos e isso vai sendo visto no evento.
MÚSICO – O que falta ao Clube do Rock para recomeçar a trazer bandas de “metal de verdade”, (death, black, thrash, heavy e doom), para o Palco do Rock aqui em Salvador?
CLEBER – Não nos falta nada! Já trouxemos inúmeras bandas de Metal de fora do Estado e locais também. Sua postura como músico é desrespeitosa aos outros colegas de profissão. A história do Palco do Rock mostra que o evento é repleto de bandas de Metal, porém, esse lance de “Metal de verdade” (me dê licença com relação às aspas) é intrigante. A Keter toca Death/Thrash. A Suffocation of Soul é Thrash 80’s. A Dryad é Heavy. A Fullminant é Thrash/Death, só para citar as bandas que tocaram este ano. Não entendo essa vontade de só se satisfazer e nem se importar com os outros. A associação já vê isso como limitação identitária extrema. Nós desconhecemos o “Metal de mentira” e estamos cansados dessa demagogia e desrespeito aos amantes dos mais variados estilos que figuram no Palco do ROCK.
MÚSICO – Presenciei na curadoria organizada este ano uma determinada banda ser “esculachada” por Gabriel, pela péssima apresentação do material. Porém, a banda foi selecionada. Houve troca de favores?
CLEBER – Devo salientar que a banda não foi esculachada, pois este não é e nunca será nosso intuito e tampouco da curadoria pública. Foi uma observação sobre a apresentação gráfica do material da banda. A capa do cd não estava pronta até o prazo de entrega do material de inscrição e os caras entregaram o material que dispunha para avaliação da gravação, e a sonoridade estava acima da média. Não houve troca de favores, afinal de contas, que favor teríamos trocado com uma banda local que não deixa sombra de dúvidas sobre sua qualidade? Apenas de tocar e fazer bonito lá. A banda tem que ser boa na execução do som e no palco. A apresentação gráfica ajuda, mas se isso fosse determinante para a escolha ela nem seria ouvida. No entanto, antes mesmo do Palco do Rock, lançaram um full-lenght, prensado em fábrica, com excelência no aspecto gráfico e na gravação e este disco foi um dos mais vendidos na Vaca Verde (Stand de vendas), o que lhe rendeu prêmio.
PÚBLICO – Por que diversas bandas de rock/metal, com trabalhos consistentes, raramente tocam ou nunca tocaram no Palco do Rock e ao contrário disso, sempre tem essas bandinhas toscas que não tocam durante o ano inteiro, nem apóiam a cena, mas que estão presentes em todas as edições do festival?
CLEBER – Desconheço estas bandas consistentes que ENVIARAM materiais e não tocaram. Existe, após o resultado, um serviço chamado RAIO X, no qual a banda solicita informação de sua avaliação, onde prestamos assessoria para seu crescimento. Então, fica difícil esta queixa tão antiga. Outros aspectos são os episódios registrados na história do Palco do Rock. Um deles foi quando as bandas tiveram seus cachês cortados, muitas deram as costas pro evento. Quando o Palco do Rock foi cortado de vez, outras bandas não se dispuseram a mais nada. Aquelas que compareceram podem ser toscas em seu ponto-de-vista. Nunca vi uma banda que tocasse exatamente para ninguém. As bandas que participam são aquelas que acreditam na construção de oportunidades e se mobilizam para tal.
E falar que o line-up é composto por bandas que não tocam o ano inteiro e nem "apóiam a cena" é, no mínimo, desencontrado e desinformado, pois este fator também é analisado na curadoria. Um dos objetivos do festival é servir de rede para quem está verdadeiramente em circulação, buscando visibilidade. Cabe a sugestão de pesquisar melhor sobre o cenário independente, que com a internet, está cada vez mais fácil.
NEW BRUTALITY – O que tem sido feito para mudar a imagem, construída por muitos, de que o Clube do Rock é da “panelinha”?
CLEBER – Desconhecemos esta imagem. Como eu já disse, a ACCRBA continua sendo submetida a perguntas que já deveriam estar aposentadas. A associação passou e vem passando por muitas reformulações e esta pergunta é bem referente ao conceito de alguns acontecimentos do passado: administração ruim, bandas que não conseguem tocar no evento, ou algumas pessoas que não tem sensibilidade suficiente para somar, e aí querem destruir. O que realizamos está exposto em nosso site e algumas ações já foram citadas aqui, como Curadoria Pública para o PDR, nossas reuniões com o público, bandas e produtores no “Pensando o Palco do Rock”. O engraçado é que a panela é sempre nossa. Todo mundo faz evento aqui em Salvador e nunca nos pronunciamos contrários a qualquer coisa ou críticas e sempre (ou quase sempre) todo mundo chama uma ou mais bandas amigas. Ou simplesmente só faz com suas bandas amigas ou do seu selo. Você já produziu show, Led e sabe disso. Será que “panelinha” é pensar em colaborar sempre? Então, tudo bem, aceitamos a alcunha, mas a tampa está aberta para que tragam os ingredientes necessários para engrossar o caldo... risos...
Mas nada melhor que rebater boatos com fatos. Por isso, convido a todos a visitarem no nosso site a seção "BANDAS" (que ainda será atualizada) que contém uma lista das bandas que tocaram em diversas produções nossas –
www..accrba.com.br/bandas.htm NEW BRUTALITY – Este ano foi amplamente propagado que as bandas selecionadas a participar do Palco do Rock ganhariam cachês. Isso já foi cumprido?
CLEBER – Sim, propagamos! Receberão os cachês, a não ser que esteja dizendo que o Fundo de Cultura do Estado da Bahia é fraudulento. É o resultado de uma luta de 11 anos ininterruptos. No último dia 20/04 acabou o prazo para as bandas enviarem toda a documentação necessária e que ainda estava pendente pra trâmites legais. Temos certeza que assim que receberem, todos saberão. E, quem sabe, vocês divulguem. Faremos questão.
PÚBLICO – Houve alguma diferenciação nos cachês disponibilizados para as bandas? Por qual motivo?
CLEBER – Bandas de maior respaldo e bandas de menor respaldo possuem valores diferenciados e isso é comum. Interessante é saber que o público está interessado em saber sobre isso. É uma particularidade incomum por se tratar de assuntos internos tratados entre as bandas e por ser de interesse particular de tais. Só para título de informação, a diferenciação é dada através do seguinte modo de classificação: Banda de abertura, que toca 30 minutos; Banda de curadoria, que toca em 45 minutos; e atração notória, que tem seu tempo de shows estipulado em 60 minutos.
MÚSICO – O que vocês acham dos cachês que não existem, e exigências como, as bandas não poderem levar as suas próprias bebidas ou rangos, sendo que as mesmas tocam de graça em alguns desses eventos?
CLEBER – Não entendi muito bem a pergunta. Só sei que não é o caso da ACCRBA. Sinceramente, proibir a banda de levar o próprio rango e bebida é meio louco. A ACCRBA não restringe a banda a esse tipo de coisa, já vimos restrições para o público ao entrar em eventos fechados...
Cachês que não existem, não existem! A colaboração de uma banda é importante, mas não pode ser uma imposição. Agora, se “marqueteiros” irresponsáveis e aventureiros se vêem no direito de agir de má fé com bandas, cabe a elas denunciar, se isso for verdadeiro.
MÚSICO – Vocês acreditam haver justiça quando organizadores da produção de qualquer evento incluem ou atribuem a si mesmos o controle do funcionamento das vendas no bar, e, ainda assim, não oferecer nem mesmo um copo d’água aos músicos? Controle ou lucro?
CLEBER – Cleber Silva acha que a idéia é lucro. Porém, nunca soube deste tipo de aventura. Mas, nesse caso, o mínimo de suporte deve ser oferecido às bandas. Mas, a associação não tem o pensamento romântico. Pensamos, sim, no amadurecimento e desenvolvimento deste meio, pois há custos altos para cumprir.
MÚSICO – Visto que a cena underground em Salvador anda tão decadente, com relação a equipamentos de som e afins, qual seria a opinião de vocês em relação ao fato de não podermos tirar os sons que tanto almejamos em eventos que são considerados grandiosos na cena em Salvador?
CLEBER – Cabe as bandas, antes de mais nada, saber o que vai ser colocado para ela se apresentar se tratando do som. É simples. Se for legal, vai lá e toca, e pronto. Agora, o que não dá é ir tocar e depois sair falando mal... Já teve gente reclamando de uma JCM 900 zerada no Palco do Rock. Alguns dizem que é configuração de pedal. Teve banda que nem usou pedal de efeito pra guitarra esse ano no Palco do Rock, por exemplo. Eu não conheço muita coisa nessa área específica. Até quero aprender, mas, talvez seja a falta de manejo com equipamentos considerados melhores. Mas, se o equipamento em evento grandioso for de baixa qualidade, é um problema muito grande. Passamos por isso em 2007. Equipamento “peba” comprometeu o som de algumas bandas. No PALCO DO ROCK deste ano, por exemplo, foi colocado tudo do bom e do melhor que as bandas sempre sonharam. Tudo digital, da melhor qualidade. E aí foi constatado que as bandas, em sua maioria, não tinham profissionais qualificados para operar o sistema. Que ironia, não? Na verdade, apenas mais uma lição de vida para alguns agitadores que vão aos eventos. Muitos são músicos e às vezes até tocam no próprio evento, não colaboram em nada e só buscam um motivo qualquer pra reclamar o tempo todo. Criticar e tachar tudo e todos como decadentes é muito fácil. Mas, quando a solução chega, quem realmente está pronto pra assumir seus postos?
MÚSICO – E qual a maior dificuldade encontrada hoje para fazer música no Brasil em especial em salvador?
CLEBER – Vou responder com as palavras de Sandra, as quais dou fé: “Creio que dificuldade é você quem cria no sofá da sala da sua casa. Salvador já tem uma grande margem pra crescer só falta integração e entendimentos. O que mais espero é que venha cada vez mais se extinguir as ações maldosas e destrutivas e que as pessoas pensem em somar sem demagogias.”
DIVINDADE – Quem diabos vocês pensam que são?
CLEBER – Nós não pensamos que somos. Nós somos. Nós somos produtores, agitadores, colaboradores, agentes culturais... Pensar que é algo só faz dar margem à dúvida própria. E você, que DIVINDADE pensa que é?
NEW BRUTALITY – Dever cumprido! Perguntas feitas e respondidas. Agora, só resta saber se tudo isso te convenceu.