sábado, 2 de maio de 2009

O SINDICATO DO ROCK!
Por Anderson Souza


Arquivo: Marconi Lins

É com fortes influências de Raul Seixas, Camisa de Vênus, Ten Years After, Bob Dylan, Made in Brasil e Blues Etílicos que Marconi Lins comanda a banda Sindirock. Experiente na estrada do rock, já dividiu palcos com Garotos Podres, Mark Ramone, Velhas Virgens e diversas bandas da área. Marconi também fez parte das bandas Sombra Sonora, Os Hereges, Teto Preto e Koiotes, todas com boas atuações na cena local. Também jornalista, Marconi se considera observador e sarcástico, e usa a música para exprimir suas contestações. Seu som barulhento e polêmico nos remete ao provocante espírito do clássico rock n’ roll. Confira agora esta seqüência de perguntas afiadas e respostas indigestas.

NEW BRUTALITY – A Sindirock é uma banda em que todos os músicos têm poder nas decisões, ou trata-se de um trabalho solo seu que conta com músicos contratados?
MARCONI LINS –
Sim, é um trabalho meu com a colaboração do baixista Jerri Marlon, o baterista Rodrigo Chapolim, e, às vezes, do guitarrista Hélio Rocha. São músicos e amigos meus que, de alguma forma, se identificam e acreditam nesse som. Porra, nem eu acredito! E acima de tudo na proposta de idéias que é a Sindirock.

NB – O nome Sindirock sugere um sindicato do rock, certo? Você acredita que a criação de um sindicato do rock em Salvador poderia contribuir para o desenvolvimento da cena local?
MARCONI – (
Risos) Não, não mesmo! Esse nome na realidade surgiu porque nós fomos tocar no comitê do então candidato a presidente Lula, no Rio Vermelho, em 2002. Naquela época ainda rolava showmício. Não tínhamos um nome ainda, aí o baixista da época, Raul, falou na hora: Sindirock. Acho que influenciado por tanta bandeira vermelha e branca que tinha no local, sei lá (risos). No final, foi foda! Tocamos "Estelionatária" e uma mulher do movimento feminista subiu no palco para reclamar. Mas foi legal também porque apareceram várias pessoas que foram do nosso lado e sacaram que a letra de Estelionatária não generaliza as mulheres. "Estelionatária essa mulher não vale nada". Man, nós somos anarquistas, aí eu mantive esse nome para sacanear os sindicatos, até porque estão todos nos bolsos dos patrões.

NB – Você é associado ao Clube do Rock? Por quê?
MARCONI –
Não. Rapaz, acho que minha falta de interesse se deve ao fato de o Clube do Rock fazer somente esse evento no carnaval. Algo que não me seduz, tocar no carnaval, mesmo que seja do outro lado da cidade. No circuito oficial, pior ainda. É ridículo, mas as bandas querem aparecer ou precisam da grana, aí tocam para um monte de gente nada a ver. O carnaval é uma tristeza. Moro em Ondina, e lá é insuportável nessa época do ano, você perde o direito de ir e vir. Também, trabalho o ano inteiro e aproveito essas datas pra cair fora dessa “Gottan City”.

NB – O que realmente dificulta a vida das bandas de rock em nossa cidade?
MARCONI –
A ditadura do dendê. Vamos lá, uma indústria que envolve complexos de comunicação, tevê, rádio, jornal, produtores que enchem o bolso de dinheiro fazendo shows com artistas locais no parque de exposições ou algum forró desses por aí. Pra que esses caras iriam trazer bandas de fora? Ainda tem gente que se faz essa pergunta. Jamais eles vão se interessar que Salvador entre no roteiro de shows internacionais, vai ficar muito mais caro pra eles. Aí man, some tudo isso a uma valorização da baianidade, do tambor, da percussão, da cultura negra que os intelectuais tanto prezam, mais um público, uma sociedade, porque não dizer assim que esvazia a cidade no São João, que gosta de forró. Acho que isso dificulta um pouco.

NB – Em sua opinião, qual a verdadeira relação das grandes mídias locais com o rock soteropolitano?
MARCONI –
Como se fosse um abajur no canto da sala, botam o rock ali só de enfeite.

NB – Além de músico, você é jornalista. Tem sido muito comum vermos jornalistas envolvidos com bandas de rock. Isto é uma mera coincidência ou é proposital?
MARCONI –
Sei lá cara. Tem um monte de gente aí se passando por jornalista ou produtor cultural, e nem sabe escrever um release. Ao mesmo tempo tem um monte de músicos que se arriscam a escrever. Ah, pior é o cara que se intitula musicólogo e não sabe o que é um lá com sétima. E DJ dizendo que é músico? (Risos) Pode até ser artista, mas músico não.

NB – Qual a sua visão sobre o jornalismo atual da Bahia?
MARCONI –
Profissão mal remunerada. Tô fazendo curso pra concurso agora! Pire aí.

NB – Qual é o público alvo da Sindirock e o que as letras de suas músicas abordam?
MARCONI –
Pessoas que nem eu, que acordam todos os dias para trabalhar, que não acreditam em nenhuma instituição ou religião. É mais ou menos isso que nós abordamos em nossas letras, o dia-a-dia, coisas do cotidiano, problemas, desejos, revolta.

NB – De um modo geral, você acha que o rock baiano perdeu o espírito de protesto?
MARCONI –
Sim, os tempos são outros, punk rock virou emo. Acho que o movimento Hip Hop tá mais engajado nessa causa do protesto.

NB – Você costuma acompanhar o trabalho de bandas que têm um estilo diferente do seu, mesmo dentro do rock?
MARCONI –
Sim, claro, gosto de várias bandas daqui, mesmo que não sejam meus amigos eu vou aos shows, prestigio, pago ingresso, se não gostar também não volto mais.

NB – Quais bandas têm te impressionado e inspirado atualmente?
MARCONI –
T-Rex. Baixei a discografia e a trilha sonora do filme Born to Boogie, filme dirigido e produzido por Ringo Star. Tem 2 meses que eu só ouço isso. Apesar da farofa do glam rock, o Marc Bolan era refinado em suas composições e além do mais o cara era rocker.

NB – Fale-nos sobre o EP lançado recentemente e sobre o disco de estréia que você está produzindo. Como está sendo o processo de gravação e onde as pessoas podem adquirir o material da banda?
MARCONI –
No nosso myspace. Que por sinal é mais elogiado pelas pessoas de fora do que daqui de Salvador. Então, lá você encontra o primeiro EP. Quanto ao processo de gravação, sem pressa, estúdio caseiro, muita música nova, que é o que se precisa na cena de Salvador, músicas boas, um hit.

www.myspace.com/sindirock

3 comentários:

Eduardo disse...

Uma coisa é certa, T-Rex é realmente muito foda!!!

Gabriel - ACCRBA disse...

achei muito legal a entrevista, mas não poderia deixar de pontuar este comentário engessado acerca do Clube do Rock. O Palco do Rock é sim, o seu maior projeto, que não é um simples palco longe do carnaval como opção aos rockers que não gostam da folia momesca, mas sim, um dos mais importantes e antigos festivais de rock independente do país.

Só posso entender que dizer que a ACCRBA não faz mais nada além do mesmo se deva ao fato dos outros projetos não ter a mesma dimensão. E eu vejo isso como no mínimo, querer demais. Um projeto como o Palco do Rock demanda muito tempo e muito estudo dentro da sua pré, produção e pós.

Temos diversos canais de comunicação que atestam diversas ações nossas, e nosso site é um deles. Não se baseiam em apenas shows, mas principalmente, fomento cultural e ação social.

Está na hora de também atualizar a crítica. Saber observar de perto para deferi-la primeiramente.

www.accrba.com.br

abraços a todos.

Davi Oliveira disse...

Marconi não deixa pedra sobre pedra, mas aceitou trabalhar para o PT. Se entregou para o pior. Que anarquista é este? A penitência é compor a música Lula Lelé.