sábado, 28 de fevereiro de 2009

PENSAR O PASSAR DO TEMPO
Por Geovana Monteiro*



A percepção da passagem do tempo é única para cada indivíduo. Entretanto, o fluxo temporal de nossas consciências, regularmente, segue uma linha evolutiva comum. Isto é, nascemos, nos desenvolvemos e morremos; um fluxo finito, porém qualitativamente variado para cada ser. A reflexão sobre o tempo ocupa grande parcela de um tipo de atividade humana que se denomina o filosofar. Mas pensar o tempo, pensar a nossa duração bem como a duração do universo não é tema apenas para a filosofia ou para a literatura. Volta e meia a indústria cinematográfica nos brinda com obras acerca da finitude humana, desta incapacidade demasiadamente humana da imortalidade.

No filme “O curioso caso de Benjamin Button”, inspirado no conto homônimo de F. Scott Fitzgerald, o escoamento do tempo para a personagem principal não segue a ordem aparentemente natural da vida. Brad Pitt interpreta Benjamin, um homem que ao nascer traz no corpo as marcas e enfermidades de um velho de aproximadamente oitenta anos de idade. Embora a imagem contraditória de uma criança velha possa repugnar nossa experiência cotidiana, afinal trata-se de um fenômeno contrário à regra, o que mais espanta nesta curiosa história não é o recém-nascido ancião. O que mais inquieta é a possibilidade de inversão temporal do fluxo temporal.

Haveria contradição em pensar a duração vivida invertidamente? A temporalidade de uma consciência é de fato relativa ao envelhecimento da matéria, isto é, do corpo? Se o corpo não acompanhar a experiência imediata do tempo, o que haverá de errado na possibilidade de um corpo nascer fisicamente envelhecido, mas conscientemente jovem? A inversão, neste caso, não é temporal, é material. A criança no corpo velho, embora experimente sensações físicas contrárias à ordem natural do amadurecimento humano, permanece criança: as mesmas inseguranças, os mesmos desejos infantis, a mesma inexperiência e dependência dos “mais velhos”.

Enfim, muitas questões filosóficas podem ser suscitadas a partir de uma obra de arte. Conquanto a sétima possa parecer aos olhos de alguns filósofos (Adorno e Horkheimer) exemplo gritante da banalização da arte e de seu poderio pela indústria cultural, completamente voltada aos interesses mercadológicos, há quem veja neste veículo de massa (que é o cinema) uma ótima oportunidade de reflexão. Aproveito então a oportunidade para indicar não só o filme “O curioso caso de Benjamin Button”, mas também o livro Duração e Simultaneidade: a propósito da teoria de Einstein (Ed. Martins Fontes), do filósofo francês que mais refletiu sobre o tempo, Henri Bergson.


* Geovana Monteiro é mestre em filosofia pela UFBA e professora do departamento de ciências humanas e filosofia da UEFS.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de te cunorinentá-lo pela iniciativa da criação do Blog. Seus comentários, surgem sob uma ótica diferenciada e inteligente.
Sucessos!
Angelimar Trindade

Anônimo disse...

Digo: Cumprimentá-lo.